sábado, 4 de setembro de 2010

Quatrilenga

Eram quatro penas de pavão, estendidas ao sol, na cauda de um varandim. O sol estava preguiçoso, torpe, sonolento, deixou-se cair para o lado sobre o rio cálido do anoitecer do corpo dela, estendida sobre a cama, lânguida, sonolenta, torpe, preguiçosa...

Eram quatro sentidos sem sentido, estendidos ao sol, quatro irmãos de indiferença. Todos eles únicos, poderosos, alegres, em viagem espiralada... Ela sentiu-os através dos vidros do antigo varandim, espreitando, insidiosos, os movimentos ociosos do seu corpo...

Eram quatro tempos e um acorde de quarta aumentada, cairam-lhe em cima de cama, disparados do quarto andar. Quatro diabos melódicos, delicados, doces, despertaram-lhe os sentidos em impulsos delicodoces...

Eram quatro, sempre quatro, até ao infinito, a repetir-se, sempre a repetir-se até que ao fim da eternidade lhe sucedesse o cinco!